sexta-feira, 3 de abril de 2009

FESTIVAL NO SUDOESTE

PORTUGAL PROFUNDO – FESTIVAL NO SUDOESTE

Publicado no Jornal Notícias do Mar

Imagem: Francisco Fonseca
Texto Mário Rocha

A zona Sudoeste do litoral Alentejano é um dos poucos locais, da costa portuguesa, ainda pouco adulterada nos seus aspectos naturais. Em plena costa Vicentina, e no extremo Norte do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, encontramos Porto Covo. Local que oferece excelentes condições de mergulho, aliadas a boas visibilidades em águas quentes e azuis.

A nossa proposta de fim-de-semana fica num Alentejo diferente, marítimo. A cerca de duas dezenas de quilómetros a Sul de Sines encontramos uma pequena aldeia de pescadores, com as suas casas típicas e vista privilegiada para um imenso mar: Porto Covo. Região de praias de águas transparentes, abundantes em peixe, que fazem o deleite dos praticantes do windsurf, pesca desportiva e, claro, dos amantes do mergulho amador.

Mergulho no azul

Antecipadamente marcamos a estadia e as saídas de mergulho com o simpático Joaquim Parrinha, responsável pelo centro de mergulho local. O sábado ficou reservado para os mergulhos mais próximos da famosa Ilha do Pessegueiro (celebrizada pela canção de Rui Veloso e Carlos Tê). Saímos para Sul e numa breve viagem de cerca de quinze minutos chegámos à zona das Pedras dos Moinhos. Esta é uma zona de pedras de grandes dimensões, entrecortadas por pequenos vales de fundo de areia, que vão até aos vinte e quatro metros de profundidade. No barco, apesar de o mar se encontrar pouco agitado, facilmente notamos a presença de alguns mergulhadores recém certificados que procuram estas águas para as suas primeiras aventuras subaquáticas. Durante a preparação do equipamento fotográfico vamos ouvindo as exclamações dos nossos companheiros de mergulho e ao cair-mos na água constatamos que estamos com sorte. A visibilidade atinge os vinte metros (sim, repito, vinte metros), quase não há corrente e a temperatura da água varia entre os vinte graus, no fundo, e os vinte e dois graus à superfície. Logo no início do mergulho verificamos que a excelente visibilidade nos permite observar muitos cardumes de diferentes espécimes e dimensões, onde dominam os Esparídeos (em especial os Sargos e os Sargos Veados). A exploração, com uma boa lanterna, dos buracos nas pedras pode revelar algumas boas surpresas, pois as Fanecas e as Abroteas de grandes dimensões são frequentes. Salmonetes, Peixes Porco, Rascassos, Cabozes, Pargos Mulatos, Garoupas, Safias, Judias e um pequeno Mero completam o leque de espécies observadas neste inesquecível mergulho. No entanto, ficamos com a sensação que não vimos tudo, pelo que se recomenda mais do que um mergulho neste local.

Estrelas e Ouriços

Após um excelente almoço em terra, o segundo mergulho do dia foi executado em condições atmosféricas adversas. Durante a tarde levantou-se vento de Norte. Aumentou a ondulação e a corrente e, claro, diminuiu a visibilidade. O local, Pedras Altas, fica a sul da ilha do Pessegueiro e é caracterizado por rochas, que vão desde dos dezassete metros até aos oito metros, com umas pequenas cavernas e por buracos em forma de poços. Enquanto nas primeiras podemos ver diversas espécies de peixes e marisco, nos segundos dominam os Espirógrafos, Anémonas, Esponjas e Nudibrânquios de várias cores, Estrelas-do-mar e grandes Ouriços do Mar. Com uma profundidade máxima de dezasseis metros e uma temperatura da água de vinte e um graus, este foi um mergulho longo, onde podemos observar espécimes de razoável dimensão: Pargos, Sargos Salemas, Fanecas, Castanhetas, Polvos, Santola, Tainhas, Bodiões, Rascassos e Garoupas.

Túneis e Cavernas

O domingo amanheceu com um sol esplêndido, sem vento e com um mar quente, azul e calmo. O sonho de todos os mergulhadores. Tais condições de mar permitiram-nos sair mais para o largo, para as Pedras do Manel. Aqui podemos observar lajes de grandes dimensões, que sobrepostas, criam arcadas e túneis com um diâmetro de dez a doze metros, que transmitem aos mergulhadores sensações diferentes das habituais. Em dias de boa visibilidade é um local bom para fotografia de ambiente. Nalgumas lajes encontramos prateleiras onde a flora é exuberante. Nelas se protegem e alimentam Espirógrafos, Anémonas, Nudibrânquios, Cabozes de vários tamanhos e cores, assim como pequenos Crustáceos e Moluscos. Os Sargos Veados, Polvos, Sapateiras, Safios, Fanecas, Abróteas, Badejos, Douradas, Robalos, Garoupas, Safias, Bodiões e Judias são as espécies dominantes. Alguns deles deslocam-se em cardumes de apreciável dimensão.

… e Galerias

O segundo mergulho do dia fica a trinta minutos do Porto de Abrigo de Porto Covo. Angra da Serva é um local calmo, com uma profundidade de doze metros e óptimo para finalizar o dia com um longo mergulho. Num fundo de areia temos várias pedras encostadas, formando galerias, que vêm até à superfície. Também neste mergulho recomendamos o uso de uma boa lanterna para a exploração dos buracos e galerias, onde podemos descobrir agradáveis surpresas. Para além de todas as espécies de que já descrevemos nos mergulhos anteriores, podemos salientar um Ruivo que passou a “planar” por nós e um pequeno cardume de Pargos Mulato, também conhecidos por Roncador Pombo porque produz sons através do ranger de dentes internos. Para grande tristeza nossa, chegou ao fim mais um fim-de-semana dedicado ao mergulho, mas com a promessa de voltarmos, pois existem outros locais (são meia centena) não menos interessantes.

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